quarta-feira, 13 de julho de 2011

Porque sou contra o reconhecimento da profissão de designer

A tecla que é batida a anos desde quando entrei na graduação é a do tal reconhecimento da profissão de designer e quando uma tecla é batida demais ela deixa de ser agradável e vira uma verborragia profissional sem fim, e parece que nos últimos meses a tal tecla voltou a bater com força em blogs e mais blogs por ai.
Quando falamos do reconhecimento da profissão, tudo são flores, quase promessas que tudo mudará da água pro vinho da noite pro dia, aquele aperto profissional do recém formado seria sanado, micreiros seriam enforcados em praça pública, dinheiro viria a rodo.
O design é uma profissão não reconhecida e contudo, este processo de reconhecimento pode vir a acarretar alguns aspectos negativos para o profissional, só que estes aspectos que são fomentados quase sempre de forma positiva por profissionais e estudantes parecem boiar numa sopa de idéias sem sentido, ninguém tem certeza de nada, ninguém sabe o que vai acontecer, e ninguém sabe como fazer acontecer.
Analisando a algum tempo, encontrei quatro pontos que os coloco a reflexão sobre se o reconhecimento poderia trazer algo bom pra nós se acontecesse agora ou apenas passar de uma porta para associações cobrarem tributos dos já falidos designers.

1- O reconhecimento não vai aumentar o valor de serviço ou salário.
Quer ser um designer de carteira assinada? Você pode, basta pedir para seu contratante, conheço várias pessoas que tem a carteira assinada como designer gráfico, mas isso serve apenas pra mostrar pro colega e esbaldar em meios acadêmicos como a última bolacha do pacote. Eu mesmo sempre tive minha carteira assinada como arte finalista, claro, recebendo mais que muita gente com carteira citada acima.
O fato é que nomeoclaturas não aumentarão seu salário, e sim seu ego, criando uma utopia que você faz aquilo que estudou, e o pior, existem ai tabelas que mostram quanto um designer deveria receber, uma em especial me assustou no qual um designer pleno receberia o mesmo tanto que um juiz federal.
Com certeza esta tabela já permeou seus sonhos, sim, imagina então os freelances cobrando aqueles preços com cifras que passam de quatro dígitos antes da vírgula.
Muitos pensam que o reconhecimento irá gerar uma base de preços e salários sólida, que será esfregada na cara dos potenciais clientes sem medo e ele terá que aceitar.
Ledo engano.
Pense no seguinte, você designer reconhecido recém formado vai até um cliente, este pede um folder simples, o preço da "tabela do reconhecimento" seria coisa de R$2000,00 o cliente diz que só pode pagar R$100,00 pelo serviço.
Você vai embora? Ou pega o serviço?
Se você for embora com certeza ele irá procurar o micreiro e pronto, terá o trabalho feito em tempo.
E você irá bater perna novamente.
Entenda que hoje existem dois mercados no design gráfico, o de nicho, e o de hit.
Podemos dizer que o hit é aquele de um universo intangível das grandes agências que trabalham com projetos absurdamente caros com um failrate minúsculo.
O nicho é o mercado que vivemos, de trabalhos sazonais e perenes que vem um atrás do outro em grandes quantidades mas preços baixos (daqui a alguns dias irei explicar aqui tal condição) este mercado é presente na grande maioria dos meios dos designers atualmente, ele tem o preço equilibrado pelo mercado, a licitação, praticamente um leilão de boca. É rentável, sim, se você souber extrair bem dele os clientes certos.
A algum tempo fiz uma pesquisa batendo os preços da tabela de valores da SINAPRO, que é o sindicado das agências de propaganda, com os preços realmente aplicados a clientes no interior, o resultado foi o esperado, mesmo publicidade que sendo próximo do design, e possui vários orgãos gestores das funções, o preço pro nicho cai muito, vai muito abaixo do da tabela. Mas a quantidade de serviço é pra encher o mês.
O reconhecimento não vai criar um cabresto no cliente para que ele se volte a você como único profissional existente, nada disso, o cliente vai pesquisar e procurar pelo mais barato como sempre fez. O que parece equilibrar grande parte do mercado é o mercado de nicho, este que rodeia o designer a todo momento.

2 - O reconhecimento não vai acabar com os micreiros.
Uma das falas que mais se repetem é esta, que o reconhecimento ceifaria os chamados micreiros, ou profissionais que atuam sem diploma no meio do design gráfico.
Você acha realmente que isso aconteceria? Tenho 99,9% de certeza que não.
Hoje o meio do design é alvo de um conceito colocado por Steve Johnson no seu livro A Cauda Longa: A democratização das ferramentas de produção.
Não dá pra negar que hoje uma pessoa que tenha um computador em casa e um bom olho possa fazer trabalhos tão bons quanto um sujeito que bronzeou a cara num monitor durante quatro anos na faculdade.
É fato, porque? Hoje as interfaces de programas são simplórias, os tutoriais estão em todos os meios digitais como Youtube ou Google, está cada vez mais fácil obter conhecimento na área através de livros que são upados diariamente no Google Books.
Ou seja, pra acabar de vez com os micreiros, simplesmente não será necessário reconhecer a profissão, e sim fechar o Google ou o impedir de disseminar informação. Mas ai você bate em outro ponto, quem coloca os tutoriais no ar...será que depois do reconhecimento uma SWAT armada vai entrar na casa destes sujeitos descendo-lhes o sarrafo por estarem trabalhando sem o devido diploma?
Temos aos montes nestes sites que lambuzam suas páginas com inspirações gráficas produzidas por autores que sequer colocaram os pés em uma faculdade. E que são copiadas a exaustão por estudantes e profissionais do design em seus trabalhos...você já parou pra saber se aquilo que você se inspira tem um fundo baseado numa experiência acadêmica?
Ai que está, antes de tentar jogar esta ladaínha da extinção dos micreiros, devemos botar a mão na consciência e ver qual é nossa posição no mercado. É estar junto a eles ou acima de outra forma?
O reconhecimento não vai acabar com os micreiros, porque a democratização daquilo que até algum tempo era apenas destes que cursavam um superior está cada vez mais acessível a todos. Um passo o micreiro já deu, igualando no aspecto de produção conosco, será que não está na hora de darmos um passo adiante nos colocando a frente deles de alguma forma antes de pensar no tal reconhecimento? Aonde o designer estará daqui a dez anos? Trabalhando na frente de um Illustrator por horas ou com um perfil muito mais gerencial?
Vejo uma saída neste ponto, em que o papel do designer se torne mais administrativo e menos mão de obra. A mão de obra ficaria na mãos dos micreiros, o designer seria um gestor, trabalhando acima, um passo a frente.
O designer seria o dono de um pacote de conhecimento a ser aberto por aqueles sem uma formação específica, e os fariam uso, mas para isso, o ego do profissional de design teria que diminuir muito pois na profissão o que não faltam são contentores do saber, que se negam a passar adiante algum conhecimento.
Este, desculpe o trocadinho, ego-ista estaria fadado a desaparecer pois o designer que nega ensinar, vira alvo da democratização não só das ferramentas, mas do saber, e o discurso egocêntrico do "eu sei" seria calado pelas vozes dos meios de divulgação de conhecimento que permeiam o mundo digital.

3 - O reconhecimento custa caro.
O reconhecimento irá trazer um custo operacional à uma entidade, esta quer que seja, que irá cuidar dos aspectos legais junto a orgãos sobre o mantimento dos profissionais no mercado, assim como acontece com outras profissões, como Administração que tem o Conselho Regional de Administração ou Contabilidade, com o Conselho Regional de Contabilidade.
Ou seja, prepare-se pra colocar a mão no bolso e pagar pra esta entidade anualmente um tributo afim dela deixar você trabalhar como reconhecido. Prepare-se pra sair da faculdade sem um puto no bolso e sem clientela formada e adicionar uma cifra pra poder trabalhar, isso se você conseguir já que reforço que o reconhecimento, não garante clientela.

4 - Como será o processo de reconhecimento?
Conhece o Steven Spielberg? Sabia que ele se formou na faculdade apenas em 2002? Antes ele até tentou se formar mas não conseguiu porque estava meio ocupado fazendo alguns filmes que viriam a se tornar clássicos como ET ou Jurassic Park.
Agora olhe por ai grandes designers sem formação alguma que sorveram do conhecimento através da já falada aqui democratização. Como ele fariam? Mesmo com o nome no auge seria possível reconhece-los? Não? Porque não?
É o famoso dois pesos, duas medidas, que muitos ralhariam.
Exemplo rápido, tenho um amigo que nunca pós um pé na faculdade, nunca, o sujeito é um dos melhores logotipistas que já vi até hoje, sabe aquele cara que você olha os trabalhos e criam um turbilhão de pensamentos como "como ele chegou neste resultado tão simples"? Este cara causava isso em mim.
Não me esqueço quando fui num pequeno escritório na casa dele pedir apoio sobre um manual de identidade visual que teria que entregar na graduação, nas paredes posters de bandas de rock no canto uma estante com livros e mais livros sobre design suiço e logotipo, todos com marcas de uso constante. O sujeito era um autodidata que tirava um bom dinheiro por aqui, só ele sozinho facilmente girava uma quantia maior que vários formados aqui.
E comprovo que os trabalhos dele seguiam a risca aspectos de design como a simplicidade, formas perfeitas, pregnância e facilidade de aplicação. Isso tudo que você aprende nas aulas e mais aulas de logotipo.
Ele mereceria o reconhecimento? Assim como Spielberg mereceu?
Nisso chegamos a uma discussão que vai além da graduação, será que basta o diploma para o reconhecimento? Ou haverá uma triagem destes profissionais para que eles sejam reconhecidos? Uma prova? Um teste? Uma análise de portfolio? Quem faria esta análise? Você deixaria seu portfolio ser analisado por um grande designer que nunca pôs um pé sequer na graduação?
As respostas a estas dúvidas dariam um livro e não mais um postagem neste blog.

Não incito aqui o não reconhecimento, longe disso, o que procuro aqui é afinar o discurso que muitas vezes é sem direção, baseando apenas em um lado extremamente positivista e doce do reconhecimento, onde muitos designers são ofuscados por promessas que o reconhecimento da profissão que viriam como um escudo aos micreiros, altos salários e uma vida plena.
Existem aspectos que ao designer pleno, ou mestre, poderiam sim ser afáveis pois eles já estão em um patamar mais alto e consolidado, mas para o designer recém formado, seriam uma bravata a ser aceita goela abaixo, sem chance de reação.
Temos que arrumar a casa, saber consolidar a posição do profissional nos dias de hoje antes de qualquer manobra de reconhecimento da profissão.
Somos atualmente um monte de gente com diploma que sabe Photoshop e Gestalt correndo a esmo atrás de migalhas da publicidade, lambendo o chão e levando calote, como reconhecer algo que não tem um norte definido?
Só deixando o ego de lado, e parando pra pensar no nosso foco profissional. O design é uma profissão que tem como intuito criar projetos e resultados concisos, mas parece que não achamos ainda um resultado pra nós mesmos.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Síndrome de Sergio Mallandro do Design

A algum tempo, vi na TV uma entrevista com o Sergio Mallandro, no qual foi indagado sobre uma história em que ele fora junto com o guitarrista Pepeu Gomes impedido de entrar no recinto de um dos parques da Disney por estarem com vestes coloridas demais. Sergio Mallandro confirmou a história, dizendo que a primeira ida dele e do guitarrista à Disney fora uma aventura e tanto até a entrada do parque, no qual os dois estavam extremamente e espalhafatosamente vestidos coloridos demais e o segurança rindo da cara deles disse que eles iam aparecer mais que as atrações do parque, os impediu de entrar.

Inicio este post com esta história, enganchando-a em um caso que vi a pouco tempo, um amigo recém formado em design que abriu uma agência, esta era tão colorida quanto o humorista e o guitarrista do começo da história.
As paredes amarelas, azuis, com padrões esquistos, uma entrada estranha em cores berrantes, cadeiras jogadas a esmo sem precisão alguma, livros e mais livros que no quais nunca foram lidos dispostos em todos os lugares afim de passar uma falsa impressão de intelectualidade.
Agora imagine um industrial, na casa de seus 50 anos, um cliente em potencial que tem realmente dinheiro pra gastar em um trabalho de design qualquer entrando em um lugar destes, e se deparando com este ambiente junto claro, com um sujeito de chinelos, cabelo gigantesco falando em gírias.

Pois bem, aí que está, o design está colorido demais em priori, no atendimento ao cliente.
Este é o interior da maior agência de publicidade do Brasil, a Young & Rubicam e seu presidente Marcelo Quintela, a sobriedade não é a toa. Vê algum papel de parede colorido? Algum elemento exageradamente fora do comum? Pessoas com cabelos estranhos ou com atitudes esquisitas?

Não me esqueço quando trabalhei em uma grande agência de publicidade no interior de São Paulo, naquela época eu havia acabado de sair da faculdade, eu tinha esta mentalidade de que agência de design tinha que ser um ambiente tão quão colorido quanto os trabalhos. Ledo engano, quando coloquei o pé dentro da recepção de tal agência, me deparei com uma sala com uma secretária, o ambiente sóbrio, com peças em pequenos quadros salpicavam uma parede negra, os móveis bem arranjados e colocados de forma disposta a criar um ambiente simples, mas muito sofisticado.
Fui recebido pelo meu futuro patrão, eu com uma camiseta destas de estampas descoladas hippister fui praticamente subtraído daquele ambiente, parecia que eu não pertencia aquele lugar, o homem que me recebeu usava uma camisa engomada, sapatos e cabelos penteados e com um sorriso no rosto, apertou minha mão com força e me levou até uma sala de reuniões, esta com uma mesa de tampo negro que parecia subir até o teto ao tomar caminho pela pintura que subia também em cor escura na parede ao lado dela, cadeiras dispostas ao redor, uma grande LCD que naquela época era coisa rara ainda, ao lado uma estante de mogno também negra exibia livros no qual eu mal conseguia ler as lombadas a não ser dos mais grossos, um ao lado do outro alinhados como teclas de piano.
Conversamos por quase dez minutos, minhas gírias eram canceladas pelo bom português do homem, sem sotaque e com um agradável senso de humor e uma educação invejável, eu me senti péssimo naquele momento, parecia que jamais iria conseguir emprego em um local tão sofisticado, dias depois lá estava eu trabalhando, mas depois de diversas recomendações de vestimentas que acatei sem delongas, lá estava eu atendendo a clientes com uma camisa, coisa que usava até então raramente e cabelos penteados no qual mal me lembrava a última vez que fizera.

Minha sensação no dia daquela primeira conversa foi como a do Sergio Mallandro na entrada da Disney, eu estava subtraído daquele lugar, eu poderia com certeza pensar como a maior parte dos designers que se auto-afirmam visualmente, "mas este é meu estilo", mas me coloquei como aquele industrial que inventei acima, com certeza a sobriedade passada por esta agência faria o fechar negócio ali mesmo, naquele lugar, com certeza as chances daquele industrial de 50 e poucos anos abrir uma conta naquela agência eram bem maiores que na agência Sergio Mallandro do rapaz recém formado.
Interior da agencia de publicidade JWT, uma das maiores do Brasil, um estilo diferenciado, mas ainda bebe de conceitos visuais corporativos afim de criar um choque de ambientes, que passa modernidade e sobriedade.

Percebi então que a palavra criativo como adjetivo para abranger um ambiente de trabalho no qual seu cliente põe o pé deve ser muito bem separada do atendimento da parte de criação. Este patrão uma vez me falou o seguinte, que a agência, o ambiente, as pessoas jamais deveriam extrapolar os elementos que as peças que a agência produzira, era mais ou menos como um quadro no qual a moldura não deveria chamar mais a atenção que a obra em si, claro, grande parte dos clientes eram em uma faixa de idade entre 30 a 50 anos, estes são aqueles que tem dinheiro pra gastar, pra investir na agência. Um cliente destes se sente bem em um lugar sóbrio, mas não se sente bem em um ambiente colorido demais, difícil de digerir.

Designers recém formados que gostam de encher o peito e dizer que são projetistas para diversos nichos, parecem não projetam suas agências ao seu público, a porta de entrada para o ganha pão é um verdadeiro Sergio Mallandro, que para aquele jovem designer agrada, mas para o senhorzinho dono de empresa séria não. A agência no seu interior deve ser um ambiente corporativo visualmente, um dos maiores erros é a bagunça, cores demais e o conceito de "largado"elevado a décima potência que aflora na decoração das novas agências. E estes elementos jogados passam a idéia de um ambiente no qual os próprios donos não conseguem arrumar o que está adiante da distância de um braço, e pudera, será mesmo que um cliente vai dar a imagem da sua empresa para uma pessoa que joga livros numa estante sem o mínimo cuidado? Temos cuidado pra projetar uma grid, mas não conseguimos projetar a disposição de livros em uma estante.
Sites de agências de design parecem concorrer em uma corrida entre quem ganha é o mais lotado de elementos inúteis, acima o contrário, o site da Duarte Design simplesmente a responsável pelo famoso keynote do ex vice presidente dos EUA Al Gore sobre o aquecimento global.

Designers não tem posicionamento para agir com clientela mas se colocam nesta condição ainda mais quando formam em seus cursos já que o pouco dinheiro impede a contratação de um atendimento, por isso o cuidado e atenção nas ações neste momento do novo negócio deve ser delicado e muito bem pensando, sua agência é uma empresa como qualquer outra, porque não agir com ela desta forma ao invés de vesti-la como um Sergio Mallandro e tentar enfia-la goela abaixo dos seus clientes?
O se deve entender é que o seu público é formado por pessoas comuns, de áreas diversas que não entendem de design, claro, senão nem estariam lhe procurando. Um piercing a mostra no Brasil ainda é sinônimo de desmazelo, assim como tatuagens ainda são mal vistas como na época que eram estritamente coisa de presidiário. Infelizmente ainda é assim, por isso grandes agências driblam colocando aquele funcionário mais humano no atendimento, afim de criar um canal direto com o cliente.
Foto feita em um congresso de designers, apesar da casualidade, você entregaria sua marca na mão de uma destas pessoas?

Por isso o visual de um designer cai muito bem no meio da academia, da faculdade, do curso, onde ele está cercado de designers, mas para o mundo Disney, ou o mundo lá fora, ele não é aceito com tanta facilidade, porque eclode o limite do aceitável, então comece a projetar também sua imagem como uma empresa diante do público e não como um ambiente descolado em relação a outros designers como se fosse uma competição em que o vencedor é o mais colorido, vista seu Sergio Mallandro para que ele possa entrar na Disney sem problemas.